Banda Municipal de Câmara de Lobos

A Filarmónica Recreio dos Lavradores foi fundada a 18 de novembro de 1872, no sítio do Saraiva, em Câmara de Lobos.  Em 20 de Março do ano seguinte, os 12 executantes da colectividade dispunham de instrumentos, adquiridos em Lisboa, e haviam iniciado já os ensaios sob a direcção do seu habilitado regente e fundador, João Nóbrega de Noronha.

Em outubro do ano seguinte, a Filarmónica realizava a sua primeira actuação pública, na festa do Santo Servo de Deus. Desde o dealbar do último quartel do século, a filarmónica apresentou-se nas festividades religiosas realizadas nas paróquias de Câmara de Lobos e Estreito de Câmara de Lobos e naquelas das freguesias próximas do Campanário, de São Martinho, Santo António e Santa Luzia (Funchal) e tocou ainda nos arraiais da Camacha e Calheta.

Sob a regência de João Rodrigues do Nascimento (1908-1910; 1915), Artur Maria Lopes (1912-1916) e Francisco Fernandes da Silva Júnior (1916-1966), incrementaram-se os contratos à “música velha”: desde pelo menos 1910, a Filarmónica Recreio dos Lavradores organizava o seu efectivo – que em 1915 contabilizava trinta e cinco executantes – em duas divisões, por forma a garantir a animação de festas religiosas em várias localidades. Naquelas cinco décadas, a par dos regulares serviços nas paróquias do concelho de Câmara de Lobos, da vila à Quinta Grande e ao Curral das Freiras, a filarmónica apresentou-se nos arraiais da Fajã de Ovelha, São Vicente e Porto Moniz e Boaventura; do Arco da Calheta, Calheta, Madalena do Mar e Jardim do Mar; do Caniço e Machico; e de Santo António, Vitória - São Martinho, São Martinho, Monte, São Gonçalo, Santa Rita e São Pedro, do Funchal. A colectividade terá ainda constituído, nas primeiras décadas do século XX, uma “orquestra de igreja” – um coro, acompanhado por um ensemble de instrumentistas –  que acompanhava a filarmónica nos seus serviços, oferecendo o fausto e solenidade à celebração religiosa: em Março de 1917, pouco após da nomeação do músico militar Francisco Fernandes da Silva para a regência da colectividade, anunciava-se que Anselmo Baptista Serrão tomava a direcção daquele agrupamento vocal e instrumental. A filarmónica câmara-lobense era ainda contratada para outros entretenimentos populares: desde inícios do século, tocou a bordo em várias viagens de recreio à volta da Ilha, e em 1934, seguiu numa excursão a Porto Santo, realizando ainda um concerto no Jardim da Vila.

A Filarmónica Recreio dos Lavradores tomou parte, desde os primeiros anos de actividade, em cerimónias cívicas, recepções, funções beneméritas e outros eventos. A 18 de Fevereiro de 1884, a colectividade apresentava-se, sob a regência de João Nóbrega de Noronha, pela primeira vez no Funchal, e aí retornaria em Dezembro de 1895, para tomar parte na Quermesse em benefício dos inundados, realizada no Jardim Municipal. Entre várias outras presenças em cerimónias cívicas, merece menção o seu contributo artístico nas comemorações realizadas no Club Republicano (Funchal) por ocasião do primeiro aniversário da Implantação da República; e nas celebrações da assinatura do armistício, realizadas na Igreja paroquial do Estreito de Câmara de Lobos em 1918; nas comemorações do 1º de Dezembro, organizadas pela Mocidade Portuguesa em 1943; e; na recepção local ao Presidente da República, Marechal Craveiro Lopes, em 1955. A colectividade apresentou-se ainda nas Festas do 4.º Centenário da criação da freguesia de Nossa Senhora do Monte, realizadas em 1965. Em reconhecimento a várias outras instituições artísticas e desportivas regionais e nacionais, a mais antiga filarmónica câmara-lobense participou na recepção à Tuna Académica de Coimbra, em 1925; em 1926, interpretou algumas obras no sarau organizado, em sua honra, pela Banda Distrital do Funchal; realizou dois concertos, em 1930 e 1950, em comemoração do octogésimo e centésimo aniversários da Banda Municipal do Funchal e apresentou-se na Quermesse das Bodas de Ouro do Clube Desportivo Nacional, realizadas na Quinta Vigia, em 1960.

Deveras notável foi a actividade concertística da Filarmónica Recreio dos Lavradores, em que prosperou sob a direcção artística de Francisco Fernandes da Silva e dos seus sucessores: no Concurso de Bandas Civis, realizado no Funchal a 24 de Novembro de 1929, a filarmónica obteve o 2º lugar e Diploma de Honra, na 2ª categoria e, em Dezembro seguinte, apresentava-se em concerto no Jardim Municipal (onde regressaria ainda em 1932). Meses depois da distinção, a 21 de Março de 1930, por proposta do vogal da Comissão Administrativa Francisco de Barros de Sousa, a Câmara Municipal atribuía-lhe o título de “Banda Municipal de Câmara de Lobos”, que a Filarmónica Recreio dos Lavradores empenhou desde então; curiosamente, a 20 de Janeiro do mesmo ano, a colectividade havia transitado do sítio do Serrado da Adega para uma nova sede social, na Rua Principal da Vila (actualmente rua São João de Deus, 98-100). Em 1937, goraram-se os esforços para a inscrição no Concurso de Bandas Civis que se realizava em Lisboa. Desde pelo menos 1943, a Banda Municipal de Câmara de Lobos procurou contribuir para a instrução musical dos seus conterrâneos,  organizando regulares concertos na Praça 28 de Maio, que prosseguiam duas décadas depois. Entre 1959 e 1960, a instituição participou no Grande Concurso Nacional de Filarmónicas e Bandas de Música Civis, dinamizado pela FNAT, apurando-se, na 1ª eliminatória, realizada em Dezembro, no Funchal, para a 2ª, que decorreu em Setúbal, em Maio seguinte. Fernandes da Silva, forçado a abandonar, por problemas de saúde, a chefia da instituição em 1967, confiou a regência a Raul Gomes Serrão, que soube honrar o longevo labor do mestre com os executantes câmara-lobenses: em Agosto de 1968, a Banda Municipal de Câmara de Lobos mereceu o 2º lugar na eliminatória de segundas categorias, no II Concurso Nacional de Bandas de Músicas Civis, realizado, pela FNAT, no Funchal.

Regida por Raul Gomes Serrão (1967-1980; 1976-1980), José da Costa Miranda (1973-1974), José António Nunes Faria (int. 1977-1980; 1980-1986); Virgílio Vieira Marques dos Ramos (1987-1990); Alberto Cláudio de Sousa Barros (1990-2014) e Armando Santos (2015-), a Banda Municipal de Câmara de Lobos prosseguiu com as suas animações em festas religiosas, com a sua participação em cerimónias, e, particularmente, com os seus concertos: em 1974, apresentava-se no coreto ao Largo 28 de Maio (Largo da República); em 1976, comemorava o seu centésimo-quarto aniversário com um concerto no mesmo espaço e associava-se às comemorações do 1º de Maio, organizadas na Madeira, pelo INATEL. Em 1977, a filarmónica persistia nessa senda da instrução musical das comunidades locais, promovendo vários concertos em todas as freguesias do concelho. Sob a batuta de José António Faria, que havia em 1980 concluído a sua formação no Conservatório de Música da Madeira, a colectividade câmara-lobense realizou, em 1981 e 1984, concertos naquele estabelecimento de ensino artístico, enquanto continuava com os habituais concertos na vila de Câmara de Lobos. Em Novembro daquele último ano, a “música velha” deslocou-se em digressão à Venezuela, a convite do Centro Social Madeirense de Valencia. A 16 de Novembro de 1986, a instituição editou o seu primeiro registo fonográfico.

No breve período em que serviu na instituição, coube a Virgílio Ramos ainda o mérito de dirigir a Banda Municipal de Câmara de Lobos no II Festival  de Bandas José Gomes Figueiredo, realizado na cidade da Amadora, a 18 de Setembro de 1988. No âmbito de um intercâmbio, a colectividade acolheu a Filarmónica do Sagrado Coração de Jesus e Maria em 1993, deslocando-se, em 1997, por ocasião do centenário daquela instituição, a Chãs (Leiria). Ainda sob a regência de Alberto Barros, a Banda Municipal de Câmara de Lobos tomou parte nas comemorações do Dia da Madeira (6 de Setembro) na Expo’ 98; e, em intercâmbio com a Banda Bingre Canelense, apresentou-se em Aveiro a 14 e 17 de Setembro de 2001. Dois novos trabalhos discográficos da Banda Municipal de Câmara de Lobos foram editados pouco depois, em Novembro de 2001 e Junho de 2002.

Profícuo foi também o labor dos titulares dos órgãos sociais, e especialmente após o centenário da colectividade: a 17 de Maio de 1974, outorgados os estatutos no Cartório Notarial de Câmara de Lobos, a Banda Municipal de Câmara de Lobos habilitou-se como associação com reconhecida entidade jurídica. A 11 de Dezembro de 1991, a instituição celebrava protocolo com o Governo Regional para a aquisição da sua sede social: a dívida contraída de quinze mil contos, amortizáveis em quinze anos, foi, em Abril de 2000, remitida pelo Governo. Adquirido o imóvel ao sítio da Torre a 26 de Novembro de 1993, directores, executantes e associados anteciparam adequá-lo às actividades artísticas e formativas da instituição. Em 2007, projectaram-se novas instalações e em 2009 iniciou-se a edificação, financiada por contrato-programa celebrado com o Governo Regional.

A Banda Municipal de Câmara de Lobos foi declarada Instituição de Utilidade Pública a 22 de Novembro de 1979 e, a 4 de Outubro de 2018, por ocasião da efeméride da elevação a concelho de Câmara de Lobos, a Câmara Municipal atribuí-lhe a Medalha de Honra do Município, pelo assinalável empenho na formação musical de centenas de câmara-lobenses nos seus cento e quarenta e seis anos de actividade.

A mais antiga banda câmara-lobense, e uma das mais antigas instituições artísticas regionais em contínua actividade, é correntemente constituída por cerca de 50 executantes, sob a direcção de Joel Oliveira, Escola de Música, que conta com 37 aprendizes , sob a docência de 1 professor Manuel Queiroz habilitado e destacado  pela secretaria de educação, augurando um auspicioso futuro àquele que foi o primeiro berço filarmónico para as comunidades do concelho de Câmara de Lobos.

Bibliografia

Manuel Pedro Freitas, “Grupos Musicais do Concelho de Câmara de Lobos”, Revista Girão, vol. II, nº3, 2º semestre, 1989.

Vítor Sardinha & Rui Camacho, Rostos e Traços das Bandas Filarmónicas Madeirenses, DRAC, 2001.

João Arnaldo Rufino Silva, “Um Século de Música no Concelho de Câmara de Lobos”, Revista Girão, vol. II, n.º 3, 2º semestre, 2006.

Manuel Pedro Freitas, “Grupos musicais madeirenses entre 1850 e 1974”, in: A Madeira e a Música. Estudos (c. 1508 - c. 1974), ed. Manuel Morais, Funchal 2008.

Marco António Ferreira Gonçalves, “As bandas filarmónicas na Madeira, 2ª metade séc. XIX/princípios séc. XX”, in: Xarabanda Revista 17, 2008, pp. 4-22.

João E. D. Franco, Bandas Filarmónicas Portuguesas, Ancorensis, 2011.

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